21 maio 2010

Reflexões de um Suspiro



Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra e nasceu a vida.
Como começar pelo começo, se as coisas acontecem antes de acontecer?
Pensar é um ato, sentir um fato, as duas coisas juntas sou eu aqui falando o que estou falando.
A dor de dentes que perpassa essa vida deu uma fisgada funda em boca nossa. Então eu canto alto e agudo uma melodia sincopada e estridente. Essa é minha dor, se carrego o mundo há falta de felicidade.
Felicidade? Nunca vi palavra mais doida. Inventada pelos brasileiros que andam por aí aos montes.
Será que inicio pelo fim? O que justificaria o começo... Como a morte quer dizer sobre a vida??
Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. Assim é, os senhores sabem mais do que imaginam e ficam aí se fazendo de sonsos...
 Quando eu rezava, só conseguia um oco de alma – esse oco simbolizava tudo o que eu jamais poderia ter. Mais do que isso... Nada. Se bem que o vazio tem o valor e a semelhança do pleno.
Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é não pedir, mas sim, somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim, é a resposta ao meu ser, ao meu mistério.
Quero afiançar que a vida não se conhece, senão através de ir vivendo.
Se eu tivesse a tolice de perguntar quem sou eu, antes de ser, cairia estatelada no chão.
É que quem sou eu provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Se não se sabe quem se é, é porque ainda não se é, e não se satisfará.
Pergunto-me se deveria caminhar a frente do tempo e esboçar logo um final. Mas como saberei onde tudo isso terminará se não me deixar viver.
Entendo que devo caminhar passo a passo de acordo com o prazo determinado pelo tempo – Até bicho lida com o tempo – Isso vira a minha mais primeira condição. A de caminhar paulatinamente, mesmo diante da impaciência da vida.
Cada dia é um dia roubado da morte.
Eu não sou intelectual, o que digo, digo pelo coração – De-core.
Jamais se esquece da pessoa com quem já dormiu. Esse momento fica tatuado em marca de fogo na carne viva, deve ser por isso que quando percebemos o estigma, fugimos com horror.
Vivemos exclusivamente no presente, pois sempre e eternamente será o dia de hoje. E o dia de amanhã, é o hoje de hoje. Assim, a eternidade passa a ser o estado das coisas nesse momento.
Abandonar sentimentos antigos já confortáveis me exige extrema coragem.
Aceito minha liberdade sem pensar na existência como insanidade. Apesar de parecer, existir não é tão lógico assim.
Nem sempre preciso acreditar em algo ou alguma coisa, basta acreditar. Isso me aproxima do estado de graça.
E quem sou eu para culpar? O pior é que preciso perdoar. E é necessário chegar há tal nada, que mesmo que se ame ou não, deve-se perdoar o criminoso que vos mata. Pois sou eu quem o crio, sou eu que me afeiçôo por ele, logo sou eu quem deve amá-lo e perdoá-lo. Só não posso esquecer-me de sempre me perguntar se devo mesmo amar aquele que me trucida, e quem de vós me trucida. Se a vida, mais forte do que eu,  responde que quer por que quer vingança, que devo lutar mesmo que me afogue e assim morra depois. Ganho o direito de trucidar para assim apagar esse quem da minha história.
Se assim é, que assim seja.
Pois há momentos que a pessoa tá precisando de uma pequena mortezinha, sem nem ao menos saber.
Posso substituir o ato da morte por um beijo, não um beijo na parede áspera, mas um beijo boca a boca com a agonia e o prazer que é a morte.
Quero morrer várias vezes, só pra experimentar o ato da ressurreição.
Mas que não se lamentem os mortos, eles sabem o que fazem, tive há pouco no mundo dos mortos, e depois do terror negro, ressurgi em perdão.
Sou inocente! Não me consumam! Não sou vendável! Ai de mim, toda a perdição e toda a glória, é por culpa de meus atos.
Agora quero lavar as mãos e os pés, e depois vou untá-los em óleos santos de tanto perfume. E encontrei a felicidade.
A morte é um encontro consigo mesmo, ridículo e hilário, por isso pleno.
Sou enfim livre, livre de mim e de nós.
E nem me assusto porque morrer é um instante passa logo.
Viver é um luxo!!
Pronto... Passou.
Trechos de Clarice Linspector – A hora da estrela – adaptados por Joana Henning.

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